sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Dia do professor - 15 de Outubro 2021

 Hoje pensei muito no que me tornei.

Hoje não tem figurinha.

Hoje não é sobre romance. Hoje é sobre a vida real.

Menina pobre, ao concluir a 8ª série não sabia o que fazer no ensino médio e meu pai disse que seria melhor eu cursar magistério pois ao concluir os três anos de curso estaria pronta para lecionar em qualquer escola e assim começaria a trabalhar e e jamais ficaria saem emprego ou salário.

Ele acertou. Jamais fiquei sem emprego e jamais fiquei sem salário. 

Mas, a que preço! 

Sempre os menores salários, sempre as maiores dificuldades no emprego.

Meu primeiro emprego... tinha então catorze anos e minha professora de filosofia, Maria da Gloria Fernandes,  ficou encantada com a forma que apresentava meus trabalhos, quer na forma quer na expressão oral. E assim, na qualidade de diretora em uma escola comunitária convidou-se para substituir uma professora em férias em uma sala de primeiro ano fundamental.

Ai começou minha saga.

A turma: cerca de 20 alunos com idade entre 6 e 8 anos. Salário: 80,00 cruzeiros. Minha experiência: só a teoria do que estava ainda aprendendo na formação para o magistério.

Fiquei encantada. 

Com o conteúdo estipulado pela coordenação da escola e o que estava registrado na caderneta da professora em férias, fui preparando algumas aulas. 

Só uma dificuldade... Como lidar com as crianças que não se aquietavam? 

Bom... dos males o menor... entre uma brincadeira e outra, uma pintura, uma lição, uma canção.

Gostei e ao terminar o mês fui convidada para ensinar numa turma de 5ª série pois o professor de português iria para o estágio da faculdade. Gostei da turma. Adultos, porém precisava de muito mais conhecimentos do que possuia até então. Mas entre uma pesquisa e outra, um esclarecimento de dúvida com outros professores também ia aprendendo a lidar com os alunos e ensinar.

Faculdade. Decidi fazer licenciatura em filosofia e me apaixonei. Nesse momento queria ser religiosa e depois ensinar nos grupos e escolas religiosas. 

Não me tornei religiosa. Casei.

Mas me tornei professora. 

Fiz concurso público, fui aprovada em três deles. Pedi demissão voluntária de um deles e fiquei por fim com 40 horas.

Nas escolas públicas encontrei de tudo. 

Alunos alcoólatras, meninas garotas de programa, meninos que estudavam a noite na esperança de encontrar emprego pelo dia, meninos negociavam seus bagulhos através dos muros da escola, órfãos de pais vivos, meninos que trabalhavam para ajudar os pais a ganharem um pouco mais de dinheiro, jovens rebeldes de posses, que receberam a matrícula na escola pública como castigo por não obterem sucesso na escola privada, idosos que aprenderam a ler e queriam ser ainda médicos, engenheiros... sonhadores.

Uma experiência e tanto.

Com 20 horas, tinha 12 turmas numa escola e 15 em outra.

O que me sobrava para elaborar planos de aula, provas, exercícios, trabalhar as cadernetas, entregar o planejamento na supervisão, estudar um pouco e como era solteira... namorar, ir para a igreja, ao cinema e estudar para o houvesse de vir.

Ler? ia no alfarrábio pois livro novo era luxo.

Uma verdadeira saga.

Bom... consegui... Um dos governadores fez nosso salário alcançar 5 salários mínimos. 

Mas com as mudanças de governo, as reformas monetárias, eu cheguei a receber menos que a agente de serviços diversos da escola, menos que a merendeira. Sequer ficava com dinheiro para pagar o transporte. Sorte minha que a escola era perto de casa e ia a pé.

Será que dava?

Perseverei. Mas participei muito das atividades sindicais confesso. 

Até alcançarmos um plano de cargos e carreiras que nos favorecesse.

Estou prestes a me aposentar.

Mas hoje lembrei dos alunos que se tornaram professores após as aulas que dei. 

Tenho muitos alunos que hoje encontro como profissionais, colegas de trabalho.

Tenho muitos alunos que vejo na tv e são médicos, advogados, atletas, artesãos, políticos...Fico feliz pois os libertei para o conhecimento, para o amor e para o desejo de aprender.

Sei que há quem diga que ser é professor é o que deu para ser. Que professores são tacanhos enveredaram por essa profissão por não serem capazes de mais.

Que os professores são acusados de serem comunistas, são acusados de doutrinares jovens, crianças e adultos.

Pode até ser... O professor com toda a sua sabedoria comunga o que sabe, socializa o que aprendeu. 

Se isso é ser socialista eu o sou. Pois não me canso de repassar o conhecimento e o desejo de aprender sempre mais.

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Ah! Não fiquei rica. Mas tenho muitos livros. Agora posso comprar os novos. Continuo estudando.

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