terça-feira, 11 de maio de 2021

Leituras de Maio 2021 - Torto Arado

 

Antes de mais nada, qualquer comentário que faça sobre essa obra e este autor será muito restritivo ante a grandiosidade dessa narrativa.

É tão tocante essa história pois conduz a toda a ancestralidade do povo negro na cultura brasileira.

O livro traz reflexões sobre o direito a terra, o direito a colheita para aquele que a cultivou.

A condição da violência contra a mulher.

Da violência provocada pela privação e pela fome.

Saber que o povo, que o pobre é oprimido e submetido a toda sorte de perseguição. A toda sorte de injustiças.

Pensar diferente do seu patrão pode levar até a morte.

Crer em um Deus que não seja o de seu patrão pode conduzir uma população inteira para a morte pela falta de um curador, de um médico, de um professor.

Mesmo com todas essas limitações minhas para descrever essa obra maravilhosa fiz uma síntese.

Tema: Leituras de Maio 2021 (4)

 

Título: Torto Arado

Autores:  Itamar Vieira Junior

País: Brasil

Páginas: 264

Avaliação: 5/5

Término da leitura: 11/05/2021

Editora Todavia – SP - 2019

33/100 2021 #desafiodos100livrosemumano

 

O  Autor

Nascido em Salvador em 1979, é professor de geografia e doutor em estudos étnicos e africanos.

 A Obra

Publicada em 2019, recebeu os Prêmios Leya 2018, Jabuti e Oceanos.

Um acidente transforma a vida de duas irmãs. Para cada uma um destino distinto. Famílias de agricultores, trabalhadores rurais, pretos,  subjugadas pelos latifundiários. Aqueles que cultivam e aram a terra não tem direito sobre o alimento produzido. Tão pouco tem direito a salário ou moradia digna.

As crenças religiosas de um povo e as crenças impostas pelo dono da terra. Os sonhos de cada um e os destinos garantidos.

A perseguição sobre os que contradizem as ordens dono da terra.

A luta constante sobre o direito à própria vida.

Todos esses aspectos narrados por Itamar Vieira Junior de forma espetacular.

 

 Considerações

1.      Primorosa a escrita do livro.

2.      Fascina o conteúdo, a narrativa, os personagens.

3.      A capa muito bem desenhada.

 

Citações

1.      Nunca havia pensado que tinha sido parida pela terra. A terra paria plantas e rochas. Paria nosso alimento e minhocas. Às vezes paria diamantes, escutava dizer - Página 72

2.      “de seu movimento virá sua força e derrota”. Página 81

3.      Pensei nas palavras de Severo sobre a situação de nossas famílias na fazenda. Que a vida toda estaríamos submissos, sujeitos às humilhações, como a pilhagem do nosso alimento. Que eu tinha um papel nisso tudo, e que meus pais precisavam de mim para mudar de vida. Página 86

4.      Dentre as coisas que levava, e talvez a que mais me machucava, era a minha língua. Era a língua ferida que havia expressado em sons durante os últimos anos as palavras que Belonísia evitava dizer por vergonha dos ruídos estranhos que haviam substituído sua voz. Página 87

5.      Durante algum tempo, pensei que pudesse haver uma ruptura entre nossas famílias, mas o perdão aflorava da bênção que poderia ser o retorno de alguém de qual somos parte. Página 131

6.      Todo esse ambiente hostil, onde faltava água, mas sobrava violência, foi se tornando a paisagem dos primeiros anos de sua vida como homem. Página 182

7.      Está vendo esse mundão de terra ai? O olho cresce. O homem quer mais. Mas suas mãos não dão conta de trabalhar ela toda, dão? Página 186

8.      Olhei com certo encantamento o tempo caminhando, indomável como um cavalo bravio. Página 195

9.      O diamante se tornou um enorme feitiço, maldito, porque tudo que é bonito carrega em si a maldição. Página 203

10.  Não há curador nem casa de jarê. Aos poucos vão desaprendendo, porque há muitas mudanças na vida de todos. Página 206

11.  Vi tanta crueldade ao longo do tempo, e mesmo calejada me comovo ao ver os homens derramando sangue para destruir sonhos. Vi senhores enforcarem seus escravos como castigo. Cortarem suas mãos no garimpo por roubarem um diamante. Acudi uma mulher que incendiou o próprio corpo por não queres ser mais cativa de seu senhor. Página 207

12.  Outro fez do corpo de seu escravo um reparo para o barco imprestável em que navegava. Entrava água na embarcação. O barco chegou ao seu destino com um homem afogado. Página 207

13.  Nessa jornada percebeu que a vida além da Água Negra não era muito diferente no que se referia à exploração. Página 214

14.  O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Página 220

15.  O sofrimento era o sangue oculto a correr nas veias de Água Negra. Página 247

16.  Então sentiu que desde sempre o som do mundo havia sido a sua voz. Página 248

17.  Cada mulher sabe a força da natureza que abriga na torrente que flui de sua vida. Página 260

 

Aos que leram o que escrevi. Aos que leram a obra. Deixem seus comentários, curtam, compartilhe, Bjos.

 

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